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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

EROS E PSIQUÊ


Fernando Pessoa

Conta a Lenda que dormia
A quem só despertaria
Um infante, que vivia
De além do muro da estrada.


Ele Tinha que, tentado
Vencer o mal e o bem
Antes que, já libertado,
Por o que à Princesa vem.


A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a frente esquecida
Verde, uma grinalda de hera.


Longe o Infante, esforçado
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguem.

Mas cada um cumpre o destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino,
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada


E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.


E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra a hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


(Uma homenagem aos que precisam descobrir seu lado obscuro e escondido, porém adormecido, e então, ainda existente!!! Reflita um pouco sobre isso!!!)

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